SOBRE AS NUANÇAS DA EXPRESSÃO HUMANA: UMA REFLEXÃO ENTRE A ORALIDADE E A ESCRITA
Quando alguns de meus discentes, por vezes, dirigem críticas à minha prática de enveredar por temas de natureza política, em vez de limitar-me estritamente ao campo de minha especialização, devo admitir que seus argumentos não são destituídos de razão. Todavia, convido-os a dedicar atenção cuidadosa à explanação que ora se segue. A seu requerimento, permitam-me iniciar sugerindo que se abstenham de emitir julgamentos depreciativos acerca daqueles que, embora dotados de eloquência na oratória, enfrentam dificuldades no exercício da articulação escrita. Com efeito, falar e escrever constituem competências autônomas, cujas naturezas se mostram intrinsecamente distintas. Não é raro que um indivíduo exímio na arte da fala demonstre limitada proficiência na construção textual.
É, pois, indispensável reconhecer que a aptidão para a escrita não se apresenta como uma derivação obrigatória da fluência oral. Nesse sentido, impõe-se aos educadores a necessidade de compreenderem o seu papel enquanto mediadores do desenvolvimento holístico dos educandos, auxiliando-os no domínio dessas duas modalidades essenciais de expressão em uma língua. Tal compreensão revela-se ainda mais premente quando observamos línguas desprovidas de codificação escrita, cujos usuários se comunicam predominantemente por meio da oralidade, carecendo de registros sistematizados no plano gráfico.
Seria justo, então, exigir que os falantes dessas línguas exprimam-se no registro escrito com o mesmo domínio demonstrado na fala? A questão que se coloca é, sem dúvida, de inequívoca pertinência reflexiva. Acrescente-se que o encargo de estabelecer e normatizar os parâmetros da expressão escrita em qualquer língua recai, inexoravelmente, sobre os próprios falantes. Pergunta-se, porém: quão capacitados estão esses indivíduos para descrever, com rigor científico e precisão, os aspectos estruturais e funcionais de seu idioma?
Por conseguinte, não se trata de lançar desdém sobre as inestimáveis contribuições de Ferdinand de Saussure, mas de reconhecer as particularidades que demarcam a escrita e a fala como sistemas de representação. Enquanto a escrita se consubstancia na transposição de ideias mediante signos gráficos, a fala utiliza os sons como mediadores da interação comunicativa entre os sujeitos. Assim sendo, ambas as modalidades apresentam desafios e peculiaridades próprios, demandando habilidades específicas para sua plena apropriação e domínio.
Que esta reflexão inspire uma abordagem mais ampla e compreensiva acerca das manifestações humanas de linguagem, valorizando igualmente a singularidade da palavra dita e da palavra escrita, e reafirmando a responsabilidade coletiva na construção do saber linguístico e comunicacional.
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