O HOMEM DO POTE


CONTO

                                                                             Eusébio Djú

Ao Homem do Pote. À Odete Costa Semedo
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Era nas aulas de seminários de leitura literária, do oitavo trimestre, do curso de licenciatura em letras língua Portuguesa. Um dia desse, tive que ler e explicar um conto. Estando sentado sem dar conta qual seria o conto do dia. Desatento que me parecia estar durante essa aula. Surpreendentemente, me foi apresentado um conto “A Lebre, O Lobo, O Menino e o Homem do Pote”. Trazendo para mim uma história conhecida por mim o leitor dos contos da Guiné-Bissau. Portanto, me lembrava das histórias que me contavam durante a minha infância. Na beira do lume me dava prazer de não acabar nenhuma as que eles narravam para mim. De um lado, escutava decorando em cada cena do conto que eu ouvi contar.
  E, refletia sobre “a história do Homem do Pote”. Nunca me parava de pensar sobre o final do conto. Sempre, foi o que eu esperava, o final do conto. Talvez, ele morreria sem ver a sua condição de vida melhorada. Repensava na cena que em cada fala eu ouvia, dado que, o homem do Pote causou em mim uma impressão de que a minha vida teria de passar por isso tudo para depois se mudar para aquela condição mais digna. De certo que, eu estava passando por esta situação de vida. Porventura, eu teria uma vida melhor depois desta. Alguma vez, ouvia alguém dizendo, talvez, sim, nós teríamos de passar por uma situação de vida infeliz, findo isso, teremos um estilo de vida mais feliz. Mesmo assim, me sentia triste com a situação de vida do Homem do Pote. Me lembrava também da discussão que sempre tivemos, destacando que essa história do Homem do Pote tem várias versões, dependendo das instâncias em que ela foi contada.
 O Homem do Pote, era um homem infeliz que vivia numa tabanca de Manganásia.  Me lembrava das suas andanças à procura da alternativa para mudar a condição da sua família. Um dia decidiu ir consultar o sábio da tabanca. Essa ideia lhe foi tida pelo sonho durante o desaparecer luar. Pela porta encontrou o sábio que, por sua vez, o aconselhou de construir um pote e enchê-lo d’água. O Homem do Pote sem pensar duas vezes, resolveu voltar para fazer o mesmo o que o sábio lhe propôs. E, assim o fez. Ele recebia o xingamento dos populares que achavam que a sua ação é inútil, é uma besteira. Mas, nunca pensou em desistir de fazer como o sábio lhe recomendou fazer. Ainda, ele pediu aos seus filhos que não entrassem em discussões com os outros por causa do xingamento.
 Passando por algum tempo, houve a fome na tabanca que assolou todos os populares. Muitos estavam magros, sem poder mais caminhar, devido a fome que os consternou. A família do Homem do Pote voltou a ter uma vida feliz do que toda a população. Algumas pessoas lhe perguntavam se, por caso, já sabia o que viria acontecer, por conta disso que ele andava a encher o Pote.
Nesta parte, quando, cheguei nela pela leitura, comecei a comparar as personagens. Começando pela personagem Lebre que foi para a horta do Homem de Pote, porque estava passando pela mesma situação de vida, aí, encontrou o filho do homem vigiando feijões. E, mentiu, dizendo que foi Homem de Pote que lhe mandou ir até horta e dizer ao menino que lhe amarrasse, aonde tinha mais feijões. O menino, o filho do Homem do Pote em resposta do pedido, lhe amarrava na horta aonde se encontram mais feijões.
Repetidas vezes o menino amarrava a Lebre no mesmo local. Um dia, o menino resolveu negar o pedido da Lebre e disse-lhe que já foram tantas vezes. Todavia, a Lebre o ameaçou, dizendo a ele que olhasse para as suas orelhas que outrora o menino pensava que eram chifres, ora, que eram as orelhas. O menino fica com o medo, resolveu-se aceitar a proposta da Lebre. E, a amarrou, onde propôs ser amarrada. Uma vez, o Homem de Pote optou por visitar a sua horta com intuito de ver em cada lado as partes que mais tem feijões. Momento chocante, ao ver um lado da sua hora ficar sem feijões. Mesmo assim, deu volta da horta para ver os seus canteiros. Depois voltou-se ao menino, o seu filho que fazia vigia da horta, e lhe disse:
- Vi um lado limpo de feijões. Me fale, por quê esse lado ficou deste jeito?
-  Pai, sabe! Eu estava desatento uma lebre chegou e falou para mim de que você, pai, mandou que ele viesse junto a mim pedir que eu lhe amarrasse no lado que tinha mais feijões.
-Filho, seja tão inteligente, quando, alguém chegar e falar para você que fui eu a lhe dizer isso e aquilo, fale para ele que me espere chegar. Percebeu o que eu te disse, agora?
-Sabe, quando ele chegou, me disse logo de que você é muito bondoso com ela e lhe pediu que visse para a horta, daqui, será amarrada no meio por onde se encontravam mais feijões e só ao pôr do sol que irá ser largada.
-Filho, muitas pessoas estão passando fome. Você sabia disso?
- Pai, como saber disse se você não me disse?
-Entenda, agora! Há duas semanas atrás que eu presenciou um dos nossos conterrâneos morrendo, porque, estava passando fome. Escutou ou sabia disse?
- Sim, pai, escutei, mas eu não sabia nada disso, porque não me disse a respeito.
Após a conversa do Homem do Pote com o seu filho, lhe deixou conselho de que, quando, a Lebre vier, novamente, à horta e lhe fizer o mesmo pedido que a amarrasse e sem desamarrá-lo, pois ele irá chegar e saber quem era essa malandra.
Foi a parte que muito me marcou na leitura deste conto. Até comentei na aula, quando, era a minha vez de falar o respeito do conto. Eu, logo, disse que nunca a lebre chegará de perder com a sua pretensão e esperteza. Ela sabia das estratégias adequadas para escapar daquela situação em se encontrava.
A lebre chegou junto ao menino e lhe fez o mesmo pedido como habitual. Naquela hora o garoto não a deixou terminar, logo, lhe aceitou. Foi amarrá-la noutro lado, onde tinha mais feijões.
Alguns minutos o Homem do Pote chegou a horta. Entretanto, aconteceu que o Lobo na sua andanças encontrou a Lebre amarrada e exclamou, buscando saber como a Lebre veio parar naquele lugar e lhe disse:
-Sobrinha lebre, neste lugar, bem amarradinha, que vida boa!
-Tio, Lobo, se tu pretenderes viver igual a todos os outros venha, aqui, me tirar e ficar amarrado no meu lugar e assim viverás com a fartura.
Eu pensava sobre a gravidade da ignorância do Lobo até no ponto de aceitar de ficar amarrado no lugar da Lebre. Mas, uma vez, que o Lobo estava passando por uma situação da fome, ele achava que essa seria a única alternativa de ser amarrado no meio, onde, tinha mais feijões para poder ficar saciado.
-Sobrinha, eu me aceito ser amarrado no lugar. Mas, no meio por onde têm mais feijões, é lá mesmo.
-Então, me tires, daqui. Entretanto, tu deverás comer devagar, porque estás com fome. Assim, comendo devagarinho, para que, não se encha tão rápido.
-Sobrinha, sabe, eu passei esses dias todos sem ter nada para comer, por conta disso, não posso ficar amarrado antes de comer, certo é que me deixe comer para depois ser amarrado.
- Não, tio Lobo, sabe, papa-mel “disse que depois de saciar a morte não é nada, conferes”?
- Está certo! Então, me amarre.
Quando confrontei com essa cena, busquei o grau da fome o que o Lobo tinha. Ele aceitou de ser amarrado.
Logo, chegaram populares que puseram a bater no lobo. Depois, perceberam que não era o Lobo que praticou tal ato a dias atrás. Portanto, voltaram a dar chibatas na Lebre até que ela ficou meia tonta. Os dois foram batidos, enfim, Lebre apanhou pancada que lhe causou dor até no ponto de não poder mais caminhar. O menino, filho do Homem do Pote, ficou arrependido do que aconteceu com Lebre. E, lhe libertou nas mãos dos populares que a queriam bater até matar. O Homem do Pote, ainda, estava fora por onde a Lebre e o Lobo estavam sendo batidos. Mas, ao chegar entendeu que a Lebre já estava morta. Em consequência disso, o menino lhe libertou. Daí, a Lebre foi combinar com o Lobo que ficasse deitado como quem está morto. E, que ela fosse pedir as coisas das quais iria enterrá-lo junto com aquelas coisas que a Lebre irá receber na mão do Homem do Pote.
-O Lobo morreu, por isso, é necessário que você, Homem do Pote, desse as coisas que serão enterradas juntas com o Lobo, para que, ele as leve para o mundo dos mortos.
-Posso sim. Os meus filhos levaram tudo o que for útil para o enterro.
Muitos queriam saber que forma a Lebre irá fazer enterro. Já que, o defunto tornou-se igual ao tamanho do boi, assim falaram os que foram visitar os defuntos.
- Já podem ir, porque, se forem assistir a cerimônias o defunto levantará sobre vocês, dado que, foram vocês que o mataram.
Depois da conversa da Lebre todos fugiram, inclusive, o Homem do Pote. Naquele momento, a lebre desamarrou o Lobo e disse-lhe:
-Vamos dividir de igual maneira como irmãos que somos.
- Sempre é bom estar com você, Lebre. Vamos dividir da melhor forma.
 Nem cansei de entender de que tudo foi por causa da lebre, enganando o Homem do Pote de que o Lobo morreu, mas nunca chegou a morrer.


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