DA INTENÇÃO MANIFESTA À IMORTALIDADE DAS PALAVRAS: UMA REFLEXÃO SOBRE A ESCRITA

Ao empenhar-se na elaboração de um texto, o autor encontra-se investido de um propósito inalienável: o de externalizar sua cosmovisão. O texto converte-se, assim, em veículo privilegiado para a transmissão de uma mensagem, missão que exige entrega diligente e esforço inexaurível. A escritura, em sua essência, revela-se como um labor árduo, frequentemente assemelhado a um exercício físico de extenuante rigor. Contudo, tal desafio não pode resvalar para uma prática aleatória, marcada por tentativas desordenadas, como um golpe hesitante de um dardo lançado no vazio. Escrever constitui um ato deliberado, um exercício que transfigura o autor em um artífice da palavra, seja um escritor exímio, um crítico aguerrido, um ensaísta meticuloso ou um poeta visionário, capaz de aprisionar nas linhas a sutileza do vento, a vastidão do oceano e a eternidade da terra.  

É imperioso compreender que o florescimento de um escritor proficiente não se dá de forma abrupta ou fortuita. O reconhecimento literário é, em geral, precedido por cicatrizes ocultas, resultado das infindáveis horas consagradas à composição e recomposição do texto. Esse ato de refinamento contínuo, verso após verso, na troca incessante de palavras e na calibragem de expressões, reclama paciência, disciplina e um rigoroso senso de autocrítica. Não raramente, o autor mergulha em questionamentos profundos sobre a validade de seus próprios enunciados, revisitando, desafiando e reconstruindo o que concebera, em uma jornada incessante de superação.  

A escritura, pois, demanda esforço constante e atenção minuciosa a suas nuances. Não basta aceitar o texto em sua forma inicial; faz-se indispensável revisá-lo, revisitá-lo e aprimorá-lo, assegurando-se de que a mensagem veiculada seja límpida e impactante. O autor deve figurar como o primeiro e mais exigente leitor de sua obra, quer esta se destine ao público ou permaneça confinada à intimidade de um arquivo reservado.  

A prática da releitura e do refinamento textual revela-se imprescindível para a cristalização do pensamento autoral e para o fortalecimento da perenidade de seu impacto. Tal processo não apenas aprimora a clareza da mensagem, mas também consolida a capacidade da palavra escrita de atravessar o tempo e de ressoar além das fronteiras. A literatura, em última instância, emerge como uma das formas mais sublimes de imortalidade, permitindo que ideias e ideais transitem entre gerações, conferindo voz àqueles que, de outro modo, seriam relegados ao silêncio.  

Sob essa perspectiva, a escritura deve ser cultivada como um hábito diário, uma disciplina a ser nutrida com esmero. Ao iniciar este ensaio, propus-me a refletir sobre a importância da escrita literária, especialmente da poesia, enquanto ferramenta de perpetuação da memória coletiva, com ênfase nos escritores da Guiné-Bissau, cujas obras estarão presentes na Universidade Federal Fluminense (UFF) nos dias vindouros.  

A poesia guineense, notadamente no período compreendido entre 1956 e 1973, desempenhou um papel de transcendental relevância em um contexto de opressão, violência colonial e tortura. Ela ascendeu como um instrumento singular de resistência, denúncia e protesto, enfrentando estruturas de poder e desafiando as iniquidades impostas ao povo. Por meio de suas cadências poéticas, a população encontrou uma voz coletiva capaz de traduzir sua dor, alimentar suas esperanças e impulsionar sua luta por um porvir mais digno.  

A poesia, em sua essência, configura-se como a primeira aliada dos desvalidos. Para além de expor as injustiças, ela possui a capacidade singular de apaziguar as feridas, restaurar a dignidade e prantear as perdas irremediáveis. Ela evoca o sacrifício necessário em prol de um futuro equitativo, ao mesmo tempo em que denuncia a desgovernança e o descaso pelas promessas feitas ao povo.  

Dessa maneira, a escrita literária, com destaque para a poesia, consolida-se como um instrumento potente para a edificação de um legado eterno, capaz de transcender sua época e de continuar a inspirar e orientar gerações vindouras.  

Por Eusébio Djú

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